domingo, 26 de maio de 2019

Vale lembrar, senhor ministro.

Em protesto silencioso, professores vencedores do prêmio Professores do Brasil, erguem livro de Paulo Freire em foto oficial, com ministro da Educação. 
Foto: Ana Paula Ribeiro
"[...] do mesmo jeito que ela tem direito de falar “Viva o Paulo Freire”, eu tenho o direito de falar, olha, o único lugar do mundo que segue Paulo Freire é o Brasil, que eu saiba, não tem nenhum outro país que fala que o Paulo Freire é maravilhoso. Normalmente, quando você tem uma pesquisa científica, um resultado que é bom, um antibiótico, aspirina, um avião, todo mundo imita, todo mundo copia, ninguém quis copiar o Paulo Freire, e os nossos resultados são ruins.” Abraham Weintraub, 25/05/2019*

O problema é justamente esse “Que eu saiba”.

Ministro da Educação tem a obrigação de saber sobre Educação. No limite, se não tem conhecimento, que tenha humildade para aprender e, sobretudo, respeito pelos profissionais e pesquisadores da área.

Que ele saiba:

Paulo Freire é o terceiro pensador mais citado do mundo em universidades da área de humanas. O levantamento foi feito através do Google Scholar, ferramenta de pesquisa para literatura acadêmica.

Paulo Freire é o educador brasileiro mais conhecido e homenageado no mundo.

“Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, é o livro brasileiro com maior número de traduções para a Língua Inglesa.

Paulo Freire é estudado no mundo todo, em institutos especialmente criados para pesquisar sua obra. Um deles, na cidade do Porto, em Portugal, desenvolve estudos temáticos dos quais pude participar, presencialmente. Vale lembrar que as escolas portuguesas, há alguns anos, têm se destacado em rankings europeus. 

O Centro Paulo Freire, na cidade de Tampere, na Finlândia, país que é referência mundial em qualidade do ensino, “é um hub para os interessados em Paulo Freire e em seu legado para tornar o mundo mais igualitário e justo", de acordo com a definição da própria instituição. Eles publicaram, online, três livros com artigos - em finlandês - analisando a obra do brasileiro. O material teve 17 mil downloads.

A metodologia que Paulo Freire desenvolveu para alfabetizar 300 cortadores de cana no Rio Grande do Norte em 45 dias, na década de 60, é mundialmente conhecida e “copiada”, como entende o Ministro, embora Paulo Freire sendo educador, pensador e filósofo, jamais criaria um método, tampouco uma metodologia a ser copiada ou imitada. 

Paulo Freire ensinava (e ainda ensina) as pessoas a refletirem sobre suas realidades e aprenderem a partir delas, sendo assim, não há método para copiar, seus estudos são, reconhecidamente, fortes influenciadores das experiências de educação mais bem-sucedidas do mundo.

Por fim, com escusas à memória do nosso Patrono da Educação, que não merece tamanho resumo, finalizo deixando alguns links para quem saber mais.

https://www.paulofreire.org/o-instituto-paulo-freire
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46830942
https://www.hypeness.com.br/2016/06/paulo-freire-e-terceiro-teorico-mais-citado-em-trabalhos-academicos-no-mundo/

*https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/261555/professores-fazem-protesto-silencioso-contra-minis.htm



quarta-feira, 24 de abril de 2019

Em terra de técnicos, quem tem inteligência emocional é rei!





Desde que a mística do QI (Quociente de Inteligência) foi revelada, podemos dizer que considerar o intelecto como único fator para o sucesso está para o entendimento sobre a inteligência (ou as inteligências) como a ideia de que a terra é plana, para os estudos espaciais, por exemplo.

Aqueles que seguem crendo e defendendo a importância da medida da inteligência com base em critérios que levam em consideração somente a excelência intelectual, negligenciam ou ignoram todas as evidências, inclusive da Neurociência, sobre a importância do desenvolvimento da inteligência emocional. Isto porque, dentre outros argumentos,


A neurociência demonstra de forma cristalina por que a inteligência emocional tem tanta importância.
Os antigos centros cerebrais da emoção abrigam também as habilidades necessárias para conduzirmos nossa própria vida da maneira mais efetiva, e para desenvolvermos nosso sentido de convivência social. Portanto, essas habilidades estão enraizadas em nossa herança evolutiva voltada para a sobrevivência e a adaptação. (Goleman, 2011)

E quanto à Gestão de Pessoas nas escolas? Num tempo em que desenvolver habilidades socioemocionais já é parte do currículo escolar, como os sistemas de ensino têm se voltado ao desenvolvimento destas habilidades ou competências em seus gestores? E estes gestores, individualmente considerados, em que medida o confronto com as limitações da excelência técnica os tem direcionado a revisar as pautas de seus projetos pessoais de formação?

Sempre que tenho a oportunidade de desenvolver esse tema junto a esses profissionais, gosto de provocá-los a buscar na memória um gestor que considerem um exemplo positivo muito importante. Em seguida, os levo a refletir sobre as habilidades de empatia, liderança, otimismo, capacidade de negociação e tantas outras ligadas ao relacionamento humano, observadas no comportamento desta pessoa. As lembranças que surgem trazem sempre a figura de alguém que tinha as habilidades relacionadas à inteligência emocional muito desenvolvidas, independentemente do seu nível de competências técnicas. E eu não estou dizendo que estas possam ser dispensadas, ao contrário, não consigo imaginar um bom gestor, especialmente escolar, que não invista pesado em conhecimento técnico!

Nessa tendência, vejo experiências de profissionais - alguns bem jovens, inclusive - que são verdadeiros modelos, tanto na forma como conduzem os desafios do cotidiano, quanto na maneira inovadora como ajudam as pessoas a desenvolverem sua inteligência emocional, e isto sem perder de vista o Projeto Político Pedagógico e a diversidade de pessoas, papeis, interesses, etc presentes na escola. Desafio gigantesco!

Essas experiências são possíveis, porque habilidades emocionais podem ser aprendidas, com maior ou menor grau de dificuldade de acordo com características individuais, mas, sim, podem ser aprendidas e isso é muito bom!

É preciso falar mais sobre habilidades emocionais na gestão escolar, estudar mais, pesquisar, trocar experiências e investir nisso.

Nesse sentido, quero compartilhar esses breves apontamentos de Daniel Goleman, em seu livro “Trabalhando com a inteligencia emocional” (Objetiva, 2011) onde ele discorre sobre alguns equívocos comumente associados ao conceito de Inteligência Emocional:


Em primeiro lugar, inteligência emocional não significa simplesmente ser simpático. Aliás, momentos estratégicos podem exigir confrontar alguém com uma verdade desconfortável, mas significativa, que esta pessoa esteja evitando.

Em segundo lugar, inteligência emocional não quer dizer liberar sentimentos, "botar tudo para fora". Diferentemente, significa administrar sentimentos de forma a expressá-los apropriada e efetivamente, permitindo às pessoas trabalharem juntas, com tranquilidade, visando suas metas comuns. E mais: as mulheres não são mais espertas do que os homens, nem os homens são superiores às mulheres, no que diz respeito à inteligência emocional. Cada um de nós possui um perfil próprio, com pontos fortes e fracos. Alguns podem possuir mais empatia e carecer de aptidões para lidar com suas angústias. Outros podem ter percepção apurada para a mais sutil mudança em seu estado de espírito, mas ser socialmente ineptos.

Por último, nosso nível de inteligência emocional não está fixado geneticamente nem se desenvolve apenas no começo da infância. Ao contrário do QI, que pouco se modifica depois dos nossos anos de adolescência, tudo indica que a inteligência emocional pode ser, em grande parte, aprendida e continuar a se desenvolver no transcorrer da vida, com as experiências que acumulamos. Nossa competência em relação à inteligência emocional cresce continuamente. Na realidade, estudos que acompanharam alterações no nível de inteligência emocional em diversas pessoas, ao longo dos anos, mostram que estamos sempre nos aprimorando, na medida em que aprofundamos nossa capacidade de lidar com nossas emoções e impulsos, de motivar a nós mesmos, e apuramos nossa empatia e nosso traquejo social. Existe uma palavra um tanto fora de moda para esse crescimento da nossa inteligência emocional: maturidade.
  
Gosto da ideia de repensar conceitos, e este excerto, de forma tão breve, o faz muito bem, especialmente por provocar a revisão de padrões baseados em senso comum, que muitas vezes se cristalizam e acabam, por fim, inviabilizando as mudanças que tanto precisamos.


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Repensando estereótipos sobre representações raciais




Há alguns dias, num encontro sobre diversidade, vi a ilustração acima numa apresentação e fiquei surpresa, não pela imagem em si, afinal, já vi centenas de similares, fiquei surpresa porque a palestrante disse que a encontrou na internet como uma “atividade escolar para crianças”.

Curiosa, fui buscar a imagem para entender em que tipo de lugar era possível localizá-la. Encontrei em alguns blogs, dos quais escolhi citar apenas três.

O primeiro, de um professor cujo nome não vou mencionar, se intitula  “(nome do autor) Educando com você” e a chamada para a imagem é a seguinte: “Desenhos para Colorir (Libertação dos Escravos). Como sempre trago aqui sugestões de imagens para colorir ou usar nas mais diferentes atividades sobre o tema LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS. Essas imagens foram garimpadas da net.”

O segundo blog, que também leva o nome do autor (professor), tem a seguinte descrição: “Prioridade Educação + tem um pouco de tudo!” (sim, tem um sinal de + ali!). Neste blog, a chamada para “atividade” é a seguinte: “Abolição dos escravos - 50 atividades e desenhos”

O terceiro blog que gostaria de citar é o “(...) Doce Magia em Ensinar”, e a chamada é “DESENHOS PARA COLORIR – PROJETO ABOLIÇÃO DOS ESCRAVOS”.

Esses blogs têm milhares de acessos de um número muito considerável de seguidores

Agora, vamos refletir sobre a imagem acima.

Estamos em 2015! Não é possível que esses estereótipos ainda sejam disseminados nas escolas sem nenhum questionamento.


A propósito, os escravos não foram abolidos, o sistema escravocrata, a escravatura, sim.

domingo, 16 de agosto de 2015

Pesquiso, logo pratico. Pratico, logo pesquiso.

Historicamente, em termos de processo produtivo, sempre houve uma cisão entre os que pensam e os que executam.  Nesse contexto, aqueles que pensam têm um status que os coloca em posição superior em relação àqueles que "colocam a mão na massa".     
 
Se fizermos uma reflexão abreviada sobre essa realidade, logo concluímos o quanto é falha, afinal, se quem executa uma determinada tarefa, o faz de forma absolutamente mecânica, a tendência é de que o produto final nunca atinja com eficácia os objetivos de quem planejou/pensou o processo produtivo, isto porque quem não entende o processo como um todo, não consegue intuir ou tomar decisões para adaptar, adequar ou mesmo minimizar eventuais distorções, por exemplo.

E na área da Educação? Será possível apartar o pensar do fazer num campo profissional que trabalha com produção e construção de conhecimento?

Penso que essa seja uma questão para ser analisada sob incontáveis pontos de vista, mas quero me ater a apenas um deles.

Sim, sempre houve, na Educação, pessoas que se debruçam sobre a pesquisa e a produção científica e sua contribuição é indiscutível, afinal, como pensar em desenvolvimento educacional sem pesquisa?

De outro lado, não se pode negar que, ao mesmo tempo, sempre houve quem desenvolvesse seu trabalho sem a menor reflexão sobre suas pautas teóricas, seja no exercício docente, seja na gestão/administração escolar.

Dessa forma, admito que essa prática é totalmente factual na área da Educação, embora lamentável. Contudo, o que sempre me incomodou, e a cada ano de trabalho incomoda mais ainda, é uma espécie de arrogância intelectual que gira em torno dessa matéria.

De forma velada (ou não!), alguns daqueles que desenvolvem pesquisas e que se mantêm ativos no meio acadêmico, classificam como “tarefeiros” aqueles profissionais (seus pares) que cumprem as atribuições que lhe são impostas.

Veja: do ponto de vista das minhas concepções – aquelas que estruturei ao longo da vida acadêmica em associação à minha trajetória de trabalho –, posso/devo questionar, concordar ou discordar daquilo que me é imposto fazer, contudo, a par e passo dessa postura questionadora estão meus deveres enquanto trabalhador vinculado a um sistema, seja público ou privado.

Portanto, da mesma forma que o profissional que não reflete sobre sua prática e não investe em conteúdo teórico não contribui para o desenvolvimento do processo, aquele que tem um vasto conhecimento/ produção acadêmica,  mas desqualifica qualquer prática que não vá  ao encontro de  suas concepções, rotulando colegas e inviabilizando processos, é igualmente  pouco importante para a transformação da Educação.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Gustavo Ioschpe, acorde e vá cuidar da Economia!

Com a propriedade de quem trabalha na área da Educação há trinta e dois anos e desenvolve pesquisa na área, diante de mais um artigo infame (para dizer o mínimo) do economista Gustavo Ioschpe, publicado no último domingo, faço algumas observações.

Começo esclarecendo que Gustavo Ioschpe não é um educador, não tem experiência docente, tampouco em funções de gestão escolar. É um economista que, segundo consta, especializou-se em  Economia Educacional, embora não haja nenhum registro na plataforma Lattes/ CNPq em seu nome. 

Não vou me ater a detalhes dessa especialização, porque EU CONHEÇO a área da Educação e sei que não faz parte dela.

Ainda que ele não seja um profissional da Educação, é perfeitamente respeitável que ele faça críticas à Educação no Brasil, afinal, quem de nós não tem críticas a fazer à Educação, à Saúde e à própria Economia. Só não devemos esquecer que, quando falamos de um assunto sobre o qual não temos conhecimento suficiente, falamos do ponto de vista – no caso da Educação – de usuários.

Assim, considerando que Gustavo Ioschpe não é especialista, ou docente, ou algo que o valha na educação brasileira, seria razoável que não falasse tantas bobagens com a propriedade de um expert

Sim, a Educação no Brasil vai mal por vários motivos que, considerados individualmente, não fazem nenhum sentido; é preciso ter conhecimento amplo sobre essa área para entender por que chegamos nesse ponto.

O que as pessoas que não se debruçam na pesquisa sobre os problemas educacionais do país talvez não saibam, é que, há décadas, quem dá tom da Educação no Brasil são os economistas.  Parece absurdo, mas é isso mesmo. Vivemos num país economicamente fracassado, e nossos economistas, como Gustavo Ioschpe, têm sempre a solução para o fracasso da Educação.

O que quero ressaltar aqui não é, especialmente, o desrespeito com que essa pessoa trata os educadores, mas a intenção desse tipo de discurso.

Quando dizemos que o Brasil só vai mudar quando a Educação tiver qualidade, sabendo que este será um processo lento, estamos empurrando a “solução” do Brasil para “depois de amanhã”, para daqui a vinte ou trinta anos, quando o Brasil tiver educação de qualidade.

Esse discurso muda o foco de atenção da política e da economia para a escola, a grande vilã, aquela que emperra o desenvolvimento do país.

Assim, quero encerrar recomendando a Gustavo Ioschpe que cuide daquilo para o qual ele tem formação, e que vai muito mal: a Economia.

E ainda, considerando que não tenho formação para fazer uma análise do discurso dele em seus artigos, não arrisquei dizer bobagens, procurei quem tem, e trago o link do blog BlaBlaBla, em que Ana Maria Montardo faz uma análise das falácias de Gustavo Ioschpe:
As falácias de Gustavo IoschpeMuito bom!

No mais, cabe ressaltar que a participação dos diversos setores da sociedade no debate educacional é, e sempre será muito importante para transformar a Educação de nosso país.


sábado, 10 de maio de 2014

Com que mãe eu vou?


Um casal. Duas mães. Com qual passar o Dia das Mães?

Quem de nós não conhece histórias de desentendimentos familiares em datas comemorativas como o Dia das Mães? Mães que não aceitam ser “trocadas” pela sogra, filhos (as)  que se sentem divididos entre agradar a mãe e o (a) cônjuge etc.

Se buscarmos uma solução objetiva para a questão, teríamos uma proposta: a esposa fica com a mãe dela e o esposo com a dele. Resolvido. E teríamos uma comemoração de meias famílias. Resolvido?

Eu poderia elencar muitas soluções criativas que as pessoas encontram para agradar gregos e troianos nessas situações, mas não é meu objetivo.

Não pretendo apresentar uma solução para esse dilema familiar, somente fazer algumas provocações.

Podemos partir de um princípio inconteste:

O Dia das Mães é uma data criada com o objetivo implícito de obtenção de lucro.

É curioso observar que todas as datas comemorativas acompanhadas da “necessidade” de se comprar presentes não têm nenhuma origem histórica, exceto o Natal. Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, dos Namorados. Quais os fatos históricos que deram origem a cada uma dessas datas? Nenhum.

Alguém poderia argumentar: “Ah, mas o Dia dos Namorados é comemorado no dia de Santo Antonio, o santo casamenteiro!” Verdade, mas o a história que acompanha a data é a de Santo Antonio, não dos namorados. O Dia dos Namorados foi “instalado” no dia de Santo Antonio, e não por acaso. Poderia ser, inclusive, o Dia dos Casados, mas certamente geraria menos lucro.

Partindo desse princípio, podemos dizer que há muitas convenções a serem desconstruídas, pois não fazem o menor sentido.

Em outras palavras, a questão não seria discutir se o presente deve ser um jogo de panelas ou um jogo de maquiagem, por exemplo, – até porque há mães que não se maquiam e mães que adoram cozinhar com panelas novas e bonitas – a questão é desconstruir essa obrigatoriedade de se comprar um presente.

Penso que – um dos – caminhos deva ser o diálogo em família. As crianças devem ser provocadas a refletir sobre as convenções e não reproduzi-las de forma acrítica. Elas podem, no futuro, escolher adotar todas essas convenções, mas conscientes de que são convenções, o que considero improvável.


Assim, se datas como essa são tomadas como pretextos para agregar a família, ótimo! Mas se, ao contrário, são motivos para desentendimentos, brigas e frustrações, está na hora de rever valores.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Adolescência: quem está nessa fase, você ou seus filhos?

Gosto muito da abordagem educacional de Rosely Sayão*, em especial de sua forma ousada de não se utilizar de luvas de pelica para tratar das responsabilidades dos adultos em relação às crianças e adolescentes.

No artigo "Adolescência até quando", ela aborda a questão da incoerência de alguns comportamentos, considerados adolescentes, em pessoas mais velhas: 

[...] características antes creditadas apenas a adolescentes 
passaram a fazer parte da vida adulta também. 
A impulsividade, o imediatismo, a busca do prazer 
e da liberdade e o comportamento de risco, por exemplo, 
passaram a ser fatos corriqueiros na vida dos mais velhos.

Numa época em que as redes sociais explodem em rasas homenagens ao Dia das Crianças, insisto em provocar reflexões sobre qual é o papel do adulto na relação com elas. 

Enquanto pais viverem numa eterna adolescência, seus filhos estarão à mercê do acaso. É preciso, em primeiríssimo lugar, que o adulto reconheça-se como tal nessa relação que é, por princípio, entre pais (adultos) e filhos (crianças ou adolescentes).




*Rosely Sayão é psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação.

domingo, 6 de outubro de 2013

Criança e criatividade: termos indissociáveis

Estando muito próximo do Dia das Crianças, é possível observar o burburinho do comércio e da mídia na oferta das melhores possibilidades de se atender aos seus pedidos e, supostamente, torná-las mais felizes.

Fiquei pensando sobre as reais necessidades de nossas crianças e os motivos que realmente as tornam felizes, contribuindo para uma infância e um desenvolvimento saudáveis.

Ken Robinson, especialista em criatividade na educação, faz uma análise bem humorada da atual conjuntura educacional, trazendo as imagens do modelo de linha de produção – fortemente presentes na escola – e os mecanismos que restringem a criatividade dos alunos. Nesse contexto, considera falsa a epidemia de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) observada, e destaca os efeitos destruidores da medicalização nas crianças: “Um anestésico apaga os sentidos e muitos desses remédios fazem isso... Você se apaga do que está acontecendo. Estamos educando nossas crianças enquanto anestesiadas, enquanto deveríamos estar acordando-as para o que está dentro delas.”



Só se pode concluir que criança feliz é criança que pode explorar sua criatividade. Nesse sentindo, satisfazer os desejos infantis é o oposto de anestesiar seus sentidos, já que suas necessidades de atenção e afeto não podem ser substituídas por presentes... Nem remédios...

domingo, 27 de janeiro de 2013

Liderando como os grandes maestros




Vídeo sensacional!

Itay Talgam fala sobre os tipos de liderança que os maestros exercem junto às suas orquestras e não há como deixar de fazer uma analogia com o papel dos gestores de pessoas nas organizações, especialmente as escolares. 

Num concerto, as histórias se fundem. Há a história da orquestra, como instituição; do público, como comunidade e dos músicos. Há, ainda, outras histórias ocultas, das pessoas que construíram a sala de concertos, tão linda, das pessoas que fizeram aqueles instrumentos bonitos. E todas elas são ouvidas ao mesmo tempo. Essa é a real experiência do concerto ao vivo.

O funcionamento de uma organização é também uma fusão de histórias sob o comando de um “maestro” que, como nos mostra Talgam, carece mais de sabedoria, leveza e cumplicidade, que de controle rígido e impessoal, afinal, a música original ficará sempre e tão somente na cabeça do maestro, a audição do concerto, para ser inebriante, deve permitir que venham à tona as histórias individuais, e o maestro, cálido de sua função, é o responsável por harmonizar esse conjunto.

O vídeo não traz um rol de técnicas para gestores, mas, de uma forma leve e descontraída, provoca a reflexão sobre o exercício da autoridade na atuação de um líder. Muito bacana!!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Falando sobre preconceito: Compreender ou aceitar? Caminhos e descaminhos da fraternidade.


Professor e filósofo, Mário Sérgio Cortella é, indiscutivelmente, um grande destaque na história da educação brasileira, especialmente pela capacidade que tem de tratar temas de conhecimento científico com simplicidade, leveza e simpatia incomparáveis.

Na sua coluna “Escola da Vida” na rádio CBN, em 04/12/2012, quando São Paulo amanhecia sob as manchetes da agressão ao jovem estudante de direito e a decisão do TJ, determinando que o Club Athlético Paulistano aceitasse a inclusão do companheiro de um de seus associados como dependente no título familiar, Cortella falou sobre discriminação e preconceito dando uma legítima aula.

Excertos de sua exposição sobre a diferença entre compreender e aceitar delineiam a ideia de forma simples e clara.

Compreender é fundamental: “ O preconceito não expressa apenas uma opinião, expressa uma insegurança da pessoa em relação ao modo como ela se comporta. Mais do que rejeitar a outra pessoa, há uma certa dúvida em relação ao seu modo de conduta na medida em que outros modos de ser colocam isso em xeque. Por isso, temos que nos perguntar:  se eu tenho preconceito, qual é a fonte desse preconceito, a opinião contrária à minha ou algum espanto ou insegurança que carrego.”

Aceitar ou rejeitar sem antes ter compreendido é preconceito: “Preconceito é um conceito prévio, uma avaliação prévia positiva ou negativa em relação a alguém, a alguma ideia ou alguma coisa. Existe preconceito a favor, por exemplo, eu tenho simpatia a alguém simplesmente porque ela torce pelo mesmo time que eu. O preconceito é sempre anulador do senso crítico já que perturba a capacidade de uma avaliação mais séria. Quando negativo, o preconceito pode se transformar em discriminação, isto é, em afastamento, em recusa, em rejeição à outra pessoa apenas porque ela não é como eu considero correto, por isso a passagem do preconceito à discriminação não é estreita, é larga, podendo chegar até à agressão física, á violência.”

O perigo implícito nos atos de discriminação: “Eu preciso olhar aquele ou aquela que não é como eu, como sendo diferente e não como sendo menos. Eu posso, por exemplo, ter convicções políticas, éticas e partidárias que digam que alguém, que não é como eu, não está no caminho certo, mas isso não dá a mim, de forma alguma, o direito de produzir violência física ou moral contra essa pessoa. E quem o faz é absolutamente inseguro. Toda a vez que se tem de usar o exagero, a exacerbação, o transbordamento, é porque se perdeu a razão. Nesse caso, a violência é, mais que tudo, irracional e tem de ser combatida, pois alguém que é capaz de fazer isso com alguém por  ter uma orientação sexual diferente da sua, será capaz de fazer também com quem tem uma religião diferente, um time de futebol diferente, um partido diferente.”

O verdadeiro sentido da palavra fraternidade: “O diálogo pela paz começa pela  ideia de que você não é obrigado a aceitar, mas precisa compreender, isto é, precisa acolher a possibilidade da diferença. Compreender não é aceitar, fazer com que a pessoa que não é como você seja entendida apenas como uma outra pessoa, embora diferente, é um sinal de dignidade e, aí sim, está o verdadeiro sentido da palavra fraternidade: eu não quero, talvez, ser como o outro é, mas não posso negar que ele seja assim porque ele pode – sim – ser desse modo e, mesmo que eu não aceite, a compreender sou obrigado.”

In: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/mario-sergio-cortella/2012/12/04/ESCOLA-DA-VIDA-COMPREENDER-E-DIFERENTE-DE-ACEITAR-MAS-REJEITAR-SEM-COMPREENDER-E-PRECO.htm

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Da travessia à consciência

fonte da imagem:www.noticiasnx.com.br

Já que estamos comemorando a semana da CONSCIÊNCIA negra, é bem bacana aquecer esse movimento de consciência com um pouco de memória...

Sou declaradamente a favor do sistema de cotas no Brasil! É impossível conhecer a história da escravidão sem se solidarizar com as pessoas que sofrem hoje as consequências de um passado de absoluta crueldade. Desse ponto de vista, comprometer-se politicamente com a reparação não é opção, é humanidade.

A travessia no Atlântico*

"Os navios que negociavam e transportavam escravos eram chamados de navios negreiros ou navios tumbeiros, nome que é derivado de "tumba", devido à quantidade de escravos que morriam em seus porões. Calcula-se que 20% dos escravos africanos embarcados nos tumbeiros morriam durante a travessia pelo oceano Atlântico.

O tumbeiro poderia ser uma nau, um bergantim, uma corveta, dependendo do desenvolvimento tecnológico da época (o tráfico atlântico de escravos durou quatro séculos e durante esse tempo as técnicas de navegação mudaram muito).

Em geral essas embarcações transportavam entre 400 e 500 escravos, todos confinados num porão. Os negreiros (comerciantes de escravos) compravam escravos a mais do que sua embarcação comportava, pois sabiam que perderiam muitas das suas "mercadorias" durante a viagem, e assim superlotavam suas embarcações.

Uma viagem entre Angola e Brasil durava 35 dias. E entre Moçambique e Brasil demorava em torno de três meses. Os alimentos e a água potável transportada por esses navios eram insuficientes até mesmo para a tripulação (trabalhadores do navio), pois não existia nenhuma forma de refrigeração.

Os escravos, confinados na parte mais insalubre do navio, passavam por situações das mais terríveis. Não sabiam onde estavam, ficavam apertados num espaço no qual não podiam ficar em pé ou se deitar, recebiam pouca alimentação com baixo grau de nutrientes (basicamente: feijão, farinha de mandioca e carne seca). Mal recebiam água para beber. E, enquanto isso, pelas frestas da embarcação feita de madeira, a água do mar ia aos poucos invadindo o chão do porão.

Famintos, fracos e doentes, os escravos não tinham mais nada em que acreditar. O desespero era tanto, que alguns dos cativos aceitavam vigiar e punir seus companheiros de sofrimento em troca de um pouco mais de água. Os rebeldes eram, normalmente, envenenados. Os mortos eram atirados ao mar.

Nessa situação de tamanha infelicidade, pessoas que nunca tinham se visto antes, que nem sequer falavam a mesma língua, se ajudavam. Repartiam a pouca comida. Consolavam-se. Essa amizade, essa solidariedade que surgia nos tumbeiros era chamada de malungo, ou seja, amizade de travessia, que algumas vezes se perpetuava para a vida toda.

São comuns os relatos sobre a enorme felicidade dos escravos ao aportarem no Brasil, o que era interpretado na época como se os africanos estivessem alegres por se libertarem da vida pagã africana ao chegar ao mundo cristão americano. Esse foi um dos argumentos mais eficientes para legitimar a comercialização de gente na época."

* Érica Turci. In: "Tráfico de escravos: Mercadoria humana atravessa o Atlântico" (http://educacao.uol.com.br)

Vale lembrar, senhor ministro.

Em protesto silencioso, professores vencedores do prêmio Professores do Brasil,   erguem livro de Paulo Freire em foto oficial, com minist...