Professor e filósofo, Mário Sérgio Cortella é, indiscutivelmente,
um grande destaque na história da educação brasileira, especialmente pela
capacidade que tem de tratar temas de conhecimento científico com simplicidade,
leveza e simpatia incomparáveis.
Na sua coluna “Escola da Vida” na rádio CBN, em 04/12/2012, quando
São Paulo amanhecia sob as manchetes da agressão ao jovem estudante de direito
e a decisão do TJ, determinando que o Club Athlético Paulistano aceitasse a
inclusão do companheiro de um de seus associados como dependente no título
familiar, Cortella falou sobre discriminação e preconceito dando uma legítima
aula.
Excertos de sua exposição sobre a diferença entre
compreender e aceitar delineiam a ideia de forma simples e clara.
Compreender é fundamental: “ O preconceito não expressa
apenas uma opinião, expressa uma insegurança da pessoa em relação ao modo como
ela se comporta. Mais do que rejeitar a outra pessoa, há uma certa dúvida em relação
ao seu modo de conduta na medida em que outros modos de ser colocam isso em
xeque. Por isso, temos que nos perguntar: se eu tenho preconceito, qual é a fonte desse
preconceito, a opinião contrária à minha ou algum espanto ou insegurança que
carrego.”
Aceitar ou rejeitar sem antes ter compreendido é preconceito:
“Preconceito é um conceito prévio, uma avaliação prévia positiva ou negativa em
relação a alguém, a alguma ideia ou alguma coisa. Existe preconceito a favor,
por exemplo, eu tenho simpatia a alguém simplesmente porque ela torce pelo
mesmo time que eu. O preconceito é sempre anulador do senso crítico já que
perturba a capacidade de uma avaliação mais séria. Quando negativo, o
preconceito pode se transformar em discriminação, isto é, em afastamento, em
recusa, em rejeição à outra pessoa apenas porque ela não é como eu considero
correto, por isso a passagem do preconceito à discriminação não é estreita, é larga,
podendo chegar até à agressão física, á violência.”
O perigo implícito nos atos de discriminação: “Eu preciso
olhar aquele ou aquela que não é como eu, como sendo diferente e não como sendo
menos. Eu posso, por exemplo, ter convicções políticas, éticas e partidárias que
digam que alguém, que não é como eu, não está no caminho certo, mas isso não dá
a mim, de forma alguma, o direito de produzir violência física ou moral contra
essa pessoa. E quem o faz é absolutamente inseguro. Toda a vez que se tem de
usar o exagero, a exacerbação, o transbordamento, é porque se perdeu a razão.
Nesse caso, a violência é, mais que tudo, irracional e tem de ser combatida,
pois alguém que é capaz de fazer isso com alguém por ter uma orientação sexual diferente da sua, será
capaz de fazer também com quem tem uma religião diferente, um time de futebol diferente,
um partido diferente.”
O verdadeiro sentido da palavra fraternidade: “O diálogo
pela paz começa pela ideia de que você
não é obrigado a aceitar, mas precisa compreender, isto é, precisa acolher a possibilidade
da diferença. Compreender não é aceitar, fazer com que a pessoa que não é como
você seja entendida apenas como uma outra pessoa, embora diferente, é um sinal
de dignidade e, aí sim, está o verdadeiro sentido da palavra fraternidade: eu
não quero, talvez, ser como o outro é, mas não posso negar que ele seja assim
porque ele pode – sim – ser desse modo e, mesmo que eu não aceite, a compreender sou obrigado.”
In: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/mario-sergio-cortella/2012/12/04/ESCOLA-DA-VIDA-COMPREENDER-E-DIFERENTE-DE-ACEITAR-MAS-REJEITAR-SEM-COMPREENDER-E-PRECO.htm
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