A ideia de que o conhecimento é infindo faz da
tarefa de ensinar, fundamentalmente, o exercício de evocar o que já se sabe
para ampliar, reorganizar e transformar, construindo novos saberes que, a certa
altura, promoverão outros, num ciclo sem fim, em que a memória (o passado) estará sempre presente.
Nossa memória, imersa no espírito dos tempos
modernos, vincula-se somente a projetos imediatos. Nesse sentido, o filme “O
Rei Leão”, traz uma ilustração bastante interessante da importância de se evocar
a história pessoal a fim de construir as pontes necessárias entre passado e presente e
não suicidar o futuro, no caso, do bando.
Rafiki, o sábio babuíno que batizou Simba, foi o responsável por abrir-lhe os olhos em relação ao seu passado, provocando-o a superar a apatia, apropriar-se de seu papel na história e tornar-se o verdadeiro rei. Eis um curto diálogo entre os dois personagens:
Rafiki, o sábio babuíno que batizou Simba, foi o responsável por abrir-lhe os olhos em relação ao seu passado, provocando-o a superar a apatia, apropriar-se de seu papel na história e tornar-se o verdadeiro rei. Eis um curto diálogo entre os dois personagens:
Rafiki: O
tempo está estranho, você não acha?
Simba: É,
o vento deve estar mudando.
Rafiki:
Oh! Mudar é bom!
Simba: É,
mas não é fácil. Eu sei o que tenho que fazer, mas se eu voltar tenho que
enfrentar o meu passado. Eu tenho fugido há tantos anos...
(Rafiki dá
uma paulada na cabeça de Simba)
Simba: Ai!
Ei, que história é essa?!
Rafiki:
Não interessa, está no passado! (risos)
Simba: É,
mas ainda dói!
Rafiki: É,
o passado pode doer, mas do jeito que eu vejo você pode fugir dele ou aprender
com ele. Ah! Entende? E o que vai fazer?
Incomodado
pelo sábio, Simba, que até então negava sua memória, passa a reconhecer-se como
autor de sua história e, portanto, de seu passado, presente e futuro; se vê
atormentado pelo desafio de ter que decidir entre assumir suas
responsabilidades como rei, ou seguir com seu estilo de vida despreocupado (hakuna
matata). Estava estabelecido o desequilíbrio necessário, a ruptura consciente para
promover a transformação. O conhecimento, agora sim, renovado, dava margem a novas
possibilidades.
Como bem
lembra o professor Jean Lauand, a mais famosa sentença de Píndaro – “Torna-te o
que és” – é bastante apropriada nesta
interpretação. Simba, esquecido, alheio à sua memória, não era rei, para tornar-se
o que era em essência, o papel do sábio foi imperioso. Na carona dessa
analogia, deixo uma reflexão/ provocação: Nossa educação escolar carece de
sábios, de reis ou sequer precisa desses personagens?