segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Da travessia à consciência

fonte da imagem:www.noticiasnx.com.br

Já que estamos comemorando a semana da CONSCIÊNCIA negra, é bem bacana aquecer esse movimento de consciência com um pouco de memória...

Sou declaradamente a favor do sistema de cotas no Brasil! É impossível conhecer a história da escravidão sem se solidarizar com as pessoas que sofrem hoje as consequências de um passado de absoluta crueldade. Desse ponto de vista, comprometer-se politicamente com a reparação não é opção, é humanidade.

A travessia no Atlântico*

"Os navios que negociavam e transportavam escravos eram chamados de navios negreiros ou navios tumbeiros, nome que é derivado de "tumba", devido à quantidade de escravos que morriam em seus porões. Calcula-se que 20% dos escravos africanos embarcados nos tumbeiros morriam durante a travessia pelo oceano Atlântico.

O tumbeiro poderia ser uma nau, um bergantim, uma corveta, dependendo do desenvolvimento tecnológico da época (o tráfico atlântico de escravos durou quatro séculos e durante esse tempo as técnicas de navegação mudaram muito).

Em geral essas embarcações transportavam entre 400 e 500 escravos, todos confinados num porão. Os negreiros (comerciantes de escravos) compravam escravos a mais do que sua embarcação comportava, pois sabiam que perderiam muitas das suas "mercadorias" durante a viagem, e assim superlotavam suas embarcações.

Uma viagem entre Angola e Brasil durava 35 dias. E entre Moçambique e Brasil demorava em torno de três meses. Os alimentos e a água potável transportada por esses navios eram insuficientes até mesmo para a tripulação (trabalhadores do navio), pois não existia nenhuma forma de refrigeração.

Os escravos, confinados na parte mais insalubre do navio, passavam por situações das mais terríveis. Não sabiam onde estavam, ficavam apertados num espaço no qual não podiam ficar em pé ou se deitar, recebiam pouca alimentação com baixo grau de nutrientes (basicamente: feijão, farinha de mandioca e carne seca). Mal recebiam água para beber. E, enquanto isso, pelas frestas da embarcação feita de madeira, a água do mar ia aos poucos invadindo o chão do porão.

Famintos, fracos e doentes, os escravos não tinham mais nada em que acreditar. O desespero era tanto, que alguns dos cativos aceitavam vigiar e punir seus companheiros de sofrimento em troca de um pouco mais de água. Os rebeldes eram, normalmente, envenenados. Os mortos eram atirados ao mar.

Nessa situação de tamanha infelicidade, pessoas que nunca tinham se visto antes, que nem sequer falavam a mesma língua, se ajudavam. Repartiam a pouca comida. Consolavam-se. Essa amizade, essa solidariedade que surgia nos tumbeiros era chamada de malungo, ou seja, amizade de travessia, que algumas vezes se perpetuava para a vida toda.

São comuns os relatos sobre a enorme felicidade dos escravos ao aportarem no Brasil, o que era interpretado na época como se os africanos estivessem alegres por se libertarem da vida pagã africana ao chegar ao mundo cristão americano. Esse foi um dos argumentos mais eficientes para legitimar a comercialização de gente na época."

* Érica Turci. In: "Tráfico de escravos: Mercadoria humana atravessa o Atlântico" (http://educacao.uol.com.br)

Um comentário:

  1. Também concordo com a necessária e urgente adoção de políticas que objetivem não reparar os erros do passado, uma vez que isso seria impossível, mas dar condições dignas e igualdade de oportunidades e acesso aos bens e serviços oferecidos pelo Estado. As políticas de cotas podem contribuir sobremaneira para esse objetivo.Parabéns pela iniciativa do blog. Saudações! Marcelo Dino Fraccaro

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