quarta-feira, 24 de abril de 2019

Em terra de técnicos, quem tem inteligência emocional é rei!





Desde que a mística do QI (Quociente de Inteligência) foi revelada, podemos dizer que considerar o intelecto como único fator para o sucesso está para o entendimento sobre a inteligência (ou as inteligências) como a ideia de que a terra é plana, para os estudos espaciais, por exemplo.

Aqueles que seguem crendo e defendendo a importância da medida da inteligência com base em critérios que levam em consideração somente a excelência intelectual, negligenciam ou ignoram todas as evidências, inclusive da Neurociência, sobre a importância do desenvolvimento da inteligência emocional. Isto porque, dentre outros argumentos,


A neurociência demonstra de forma cristalina por que a inteligência emocional tem tanta importância.
Os antigos centros cerebrais da emoção abrigam também as habilidades necessárias para conduzirmos nossa própria vida da maneira mais efetiva, e para desenvolvermos nosso sentido de convivência social. Portanto, essas habilidades estão enraizadas em nossa herança evolutiva voltada para a sobrevivência e a adaptação. (Goleman, 2011)

E quanto à Gestão de Pessoas nas escolas? Num tempo em que desenvolver habilidades socioemocionais já é parte do currículo escolar, como os sistemas de ensino têm se voltado ao desenvolvimento destas habilidades ou competências em seus gestores? E estes gestores, individualmente considerados, em que medida o confronto com as limitações da excelência técnica os tem direcionado a revisar as pautas de seus projetos pessoais de formação?

Sempre que tenho a oportunidade de desenvolver esse tema junto a esses profissionais, gosto de provocá-los a buscar na memória um gestor que considerem um exemplo positivo muito importante. Em seguida, os levo a refletir sobre as habilidades de empatia, liderança, otimismo, capacidade de negociação e tantas outras ligadas ao relacionamento humano, observadas no comportamento desta pessoa. As lembranças que surgem trazem sempre a figura de alguém que tinha as habilidades relacionadas à inteligência emocional muito desenvolvidas, independentemente do seu nível de competências técnicas. E eu não estou dizendo que estas possam ser dispensadas, ao contrário, não consigo imaginar um bom gestor, especialmente escolar, que não invista pesado em conhecimento técnico!

Nessa tendência, vejo experiências de profissionais - alguns bem jovens, inclusive - que são verdadeiros modelos, tanto na forma como conduzem os desafios do cotidiano, quanto na maneira inovadora como ajudam as pessoas a desenvolverem sua inteligência emocional, e isto sem perder de vista o Projeto Político Pedagógico e a diversidade de pessoas, papeis, interesses, etc presentes na escola. Desafio gigantesco!

Essas experiências são possíveis, porque habilidades emocionais podem ser aprendidas, com maior ou menor grau de dificuldade de acordo com características individuais, mas, sim, podem ser aprendidas e isso é muito bom!

É preciso falar mais sobre habilidades emocionais na gestão escolar, estudar mais, pesquisar, trocar experiências e investir nisso.

Nesse sentido, quero compartilhar esses breves apontamentos de Daniel Goleman, em seu livro “Trabalhando com a inteligencia emocional” (Objetiva, 2011) onde ele discorre sobre alguns equívocos comumente associados ao conceito de Inteligência Emocional:


Em primeiro lugar, inteligência emocional não significa simplesmente ser simpático. Aliás, momentos estratégicos podem exigir confrontar alguém com uma verdade desconfortável, mas significativa, que esta pessoa esteja evitando.

Em segundo lugar, inteligência emocional não quer dizer liberar sentimentos, "botar tudo para fora". Diferentemente, significa administrar sentimentos de forma a expressá-los apropriada e efetivamente, permitindo às pessoas trabalharem juntas, com tranquilidade, visando suas metas comuns. E mais: as mulheres não são mais espertas do que os homens, nem os homens são superiores às mulheres, no que diz respeito à inteligência emocional. Cada um de nós possui um perfil próprio, com pontos fortes e fracos. Alguns podem possuir mais empatia e carecer de aptidões para lidar com suas angústias. Outros podem ter percepção apurada para a mais sutil mudança em seu estado de espírito, mas ser socialmente ineptos.

Por último, nosso nível de inteligência emocional não está fixado geneticamente nem se desenvolve apenas no começo da infância. Ao contrário do QI, que pouco se modifica depois dos nossos anos de adolescência, tudo indica que a inteligência emocional pode ser, em grande parte, aprendida e continuar a se desenvolver no transcorrer da vida, com as experiências que acumulamos. Nossa competência em relação à inteligência emocional cresce continuamente. Na realidade, estudos que acompanharam alterações no nível de inteligência emocional em diversas pessoas, ao longo dos anos, mostram que estamos sempre nos aprimorando, na medida em que aprofundamos nossa capacidade de lidar com nossas emoções e impulsos, de motivar a nós mesmos, e apuramos nossa empatia e nosso traquejo social. Existe uma palavra um tanto fora de moda para esse crescimento da nossa inteligência emocional: maturidade.
  
Gosto da ideia de repensar conceitos, e este excerto, de forma tão breve, o faz muito bem, especialmente por provocar a revisão de padrões baseados em senso comum, que muitas vezes se cristalizam e acabam, por fim, inviabilizando as mudanças que tanto precisamos.


Vale lembrar, senhor ministro.

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