quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sobre os guardados afetivos

Minha mãe guarda uma caixinha antiga, de forma muito cuidadosa, como algumas mulheres guardam suas jóias mais valiosas. São nossas recordações (minhas e de meus dois irmãos). Cartinhas, cartões, bilhetinhos etc. Papéis amarelados pelo tempo que, volta e meia ela relê, na maior parte das vezes cercada dos netos, que ficam admirados pelo contato com a meninice de seus pais, hoje tão adultos. Esses momentos são sempre deliciosos reencontros com a nossa infância, num contexto que se mistura um pouco com a infância e adolescência de nossos filhos.
Hoje, convivendo com pais e filhos, tanto em contextos familiares diversos, quanto nas escolas em que atuo, ou simplesmente observando a dinâmica dessas relações em ambientes públicos, vou me deparando com situações de convivência familiar totalmente desvinculadas de valores afetivos. É fato que essas relações são situadas em momentos históricos, culturais e sociais vivos e, portanto, sofrem um sem-número de influências, contudo, independente disso, a afetividade nessas relações nunca deixa de ter um peso importantíssimo. Há pais autoritários demais, há pais permissivos demais - e adentrar essa matéria sem correr o risco de ser superficial é muito comum -, mas o fato é que independente da postura que se tem com relação à autoridade, não se pode negligenciar o estabelecimento de vínculos afetivos com os filhos.
A propósito, nunca se ouviu tantos “eu te amos” absolutamente inócuos distribuídos em diálogos abreviados entre pais e filhos. Penso que funcionam como uma espécie de “eu não esqueci que você existe”, escamoteando relações de total falta de afeto.
É claro que a “caixinha de guardados” não passa de um pretexto para reviver momentos significativos de afetividade e que hoje podem ser deliciosamente relembrados, mas a reflexão que trago à tela é:
Em que momentos as famílias estão se reunindo, ou se reunirão em torno de suas “caixinhas de guardados” e o que há e haverá ali de precioso?

Um comentário:

  1. Tenho certeza de uma coisa: os vínculos são importantíssimos no desenvolvimento do ser humano e em especial das crianças. Estes vínculos devem se iniciar na família e se estender na escola. Tenho observado que isto está ausente tanto nas famílias como nas escolas. Talvez isto seja a principal causa do que vivemos hoje!

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