domingo, 16 de setembro de 2012

"Simba, torna-te o que és!" Memória como promotora do conhecimento necessário à transformação


A ideia de que o conhecimento é infindo faz da tarefa de ensinar, fundamentalmente, o exercício de evocar o que já se sabe para ampliar, reorganizar e transformar, construindo novos saberes que, a certa altura, promoverão outros, num ciclo sem fim, em que a memória (o passado) estará sempre presente.

Nossa memória, imersa no espírito dos tempos modernos, vincula-se somente a projetos imediatos. Nesse sentido, o filme “O Rei Leão”, traz uma ilustração bastante interessante da importância de se evocar a história pessoal a fim de construir as pontes necessárias entre passado e presente e não suicidar o futuro, no caso, do bando. 

Rafiki, o sábio babuíno que batizou Simba, foi o responsável por abrir-lhe os olhos em relação ao seu passado, provocando-o a superar a apatia, apropriar-se de seu papel na história e tornar-se o verdadeiro rei. Eis um curto diálogo entre os dois personagens:

Rafiki: O tempo está estranho, você não acha?
Simba: É, o vento deve estar mudando.
Rafiki: Oh! Mudar é bom!
Simba: É, mas não é fácil. Eu sei o que tenho que fazer, mas se eu voltar tenho que enfrentar o meu passado. Eu tenho fugido há tantos anos...
(Rafiki dá uma paulada na cabeça de Simba)
Simba: Ai! Ei, que história é essa?!
Rafiki: Não interessa, está no passado! (risos)
Simba: É, mas ainda dói!
Rafiki: É, o passado pode doer, mas do jeito que eu vejo você pode fugir dele ou aprender com ele. Ah! Entende? E o que vai fazer?




Incomodado pelo sábio, Simba, que até então negava sua memória, passa a reconhecer-se como autor de sua história e, portanto, de seu passado, presente e futuro; se vê atormentado pelo desafio de ter que decidir entre assumir suas responsabilidades como rei, ou seguir com seu estilo de vida despreocupado (hakuna matata). Estava estabelecido o desequilíbrio necessário, a ruptura consciente para promover a transformação. O conhecimento, agora sim, renovado, dava margem a novas possibilidades.

Como bem lembra o professor Jean Lauand, a mais famosa sentença de Píndaro – “Torna-te o que és” –  é bastante apropriada nesta interpretação. Simba, esquecido, alheio à sua memória, não era rei, para tornar-se o que era em essência, o papel do sábio foi imperioso. Na carona dessa analogia, deixo uma reflexão/ provocação: Nossa educação escolar carece de sábios, de reis ou sequer precisa desses personagens? 

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