Óleo sobre tela de by Franz von Stuck (1863/1928)
Na mitologia grega, Sísifo foi condenado
pelos deuses a carregar uma grande pedra
até o alto de uma montanha e quando chegava lá, a pedra rolava abaixo
obrigando-o a retomar o esforço, num trabalho
sem fim.
Trago o mito que deu origem à
expressão “trabalho de Sísifo”, para uma representação do que sentimos quando nos
deparamos com um trabalho entediante e que parece nunca ter fim, numa breve
reflexão do trabalho na escola.
A ideia de trabalho como castigo remete,
inversa e imediatamente, à de que somente nas horas de lazer, ou de não
trabalho, se pode encontrar alegria ou prazer e, visto por esse ângulo, o dito
popular “Descubra algo que você gosta de fazer e você nunca
mais terá trabalho” faz muito sentido, servindo como uma espécie de superação
do castigo posto. Diante disso, parece muito simples: ninguém mais será
penalizado com trabalho à medida que se ocupa daquilo que gosta de fazer,
certo? Sim e não. Não se pode negar que há profissionais que se envolvem com
trabalhos que são uma espécie de prolongamento de seu lazer, são tão evidentemente felizes que parece não haver
martírio algum em seu cotidiano, contudo, sabemos que a vida profissional, via
de regra, não se mostra assim. O dia-a-dia da profissão que escolhemos nos
impõe desafios que não antecipamos, com os quais muitas vezes não sabemos lidar
e a “pedra” vai se tornando cada vez mais pesada, a “montanha” mais alta e o
trabalho, infindo e inócuo.
Na escola, a sensação de trabalho sem
fim é agravada pelo fato de que se trabalha com o intangível. Conhecimento não se
pode tocar ou medir. Avaliamos comportamentos de aprendizagem, mas muitas
vezes, a mudança é tão tênue que nos remete à sensação de fracasso e
impotência. Raras são as vezes em que podemos acompanhar a evolução da
aprendizagem de um aluno a médio e longo prazo. Trabalhamos com uma lógica
imediatista que não condiz com o desenvolvimento humano. E nos frustramos... E
acreditamos que nosso trabalho é um sem fim de tentativas vãs... É claro que temos
ações bem-sucedidas que nos enchem de
satisfação e energia, mas são os desafios apontados pelo suposto fracasso
escolar que nos atormentam, nos tiram o sono e o sossego.
A superação do imaginário do castigo,
que se consolida por essa visão
imediatista de sucesso escolar, talvez seja um caminho bastante próspero para o
abandono da ideia do “trabalho de Sísifo” na educação. A busca de possibilidades,
que se opõe ao apego às dificuldades, pode ser um exercício importante para que
possamos envidar esforços reais para uma visão sistêmica de trabalho pedagógico,
considerando o “sem fim” como um contínuo na ação do outro e não como algo que
teria de ser acabado, posto que o conhecimento é infindo por natureza.
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